
O ano era 1971. O Brasil vivia um dos períodos mais duros dos governos militares com a restrição de liberdades e vigorava o bipartidarismo, sistema em que só existiam dois partidos políticos: a Arena, do governo, e o MDB, sigla de oposição “tolerada” pelo regime. Instituído em 1966, dois anos após a tomada do poder pelos militares, o bipartidarismo restringia a participação política e eliminava a pluralidade partidária.
Mesmo assim, existiam políticos que levantavam a voz. Do Piauí, o deputado federal Severo Maria Eulálio, do MDB, natural de Picos, foi um expoente da oposição. Ele era pai do hoje conselheiro do TCE-PI Kleber Eulálio e avô do deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa Severo Eulálio (MDB), que tem o seu nome.
Crítica ao bipartidarismo
Em 26 de abril de 1971, Severo cobrou mudanças na legislação eleitoral do país. Na Câmara Federal, ele afirmou que os vícios da legislação da época a transformavam em um “instrumento de amordaçamento”. Criticou as sublegendas permitidas naquele período e defendeu a criação de um terceiro partido político. A crítica do parlamentar piauiense repercutiu no Jornal do Brasil, em 27 de abril de 1971.
“O deputado Severo Eulálio (MDB-Piauí) declarou ontem na Câmara que o país espera que os chamados ‘projetos de impacto’ do Governo Federal alcancem também a área política, ‘pois já é tempo de escoimar a legislação eleitoral dos vícios que a deformam, transformando-a em instrumento de amordaçamento, como é o caso da sublegenda’. Defendendo também a existência de um terceiro partido político, lamentou o deputado piauiense que ‘os arautos da Presidência da República procurem sufocar no nascedouro essa nova força partidária que quer surgir como nova opção para o povo brasileiro”, publicou o jornal.

O terceiro partido ao qual se referia era o Partido Democrático Republicano, que algumas correntes de oposição tentavam criar mesmo em meio ao bipartidarismo existente. Para Severo Eulálio, o bipartidarismo era “inconsistente” e fundado em “bases falsas e artificiais”.
“Não pode o Governo insistir na manutenção de uma dualidade partidária inconsistente e fundada em bases falsas e artificiais”, criticou o piauiense em trecho publicado no Jornal do Brasil.
Severo Maria Eulálio foi deputado estadual, deputado federal e prefeito de Picos, cargo que ele morreu no exercício do terceiro ano do mandato em um acidente de carro quando viajava de Picos para Teresina. Tinha apenas 49 anos, mas deixou um legado de homem público de coragem.