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Gustavo Almeida

Georgiano recorre à história para projetar vitória de Júlio César, mas se equivoca

Deputado estadual se baseia em sequência de resultados que não existiu para apostar na vitória do pai para o Senado em 2026.

Georgiano Neto aposta na vitória de Júlio César para o Senado em 2026 (Montagem/DitoIsto)

O deputado estadual Georgiano Neto (MDB) acredita que a base do governador Rafael Fonteles (PT) vai eleger os dois senadores nas eleições de 2026, sendo um deles o seu pai, o hoje deputado federal Júlio César (PSD). Para isso, ele se agarra a um dado histórico somado a uma projeção de vitória com folga de Rafael no 1º turno.

O dado é o seguinte: segundo ele, sempre que um governador no Piauí se elegeu com folga logo no 1º turno, também conseguiu eleger os dois senadores aliados.

Georgiano acredita que Rafael Fonteles será reeleito com ampla folga no 1º turno e, desse modo, aposta que o grupo do governador vai conseguir eleger também os dois candidatos a senador.

"O que se projeta para 2026 é o governador Rafael reeleito com uma ampla vitória e, naturalmente, e historicamente aqui no Piauí, o governador que ganhou a eleição no 1º turno com a grande maioria elege os dois senadores", disse o deputado ao DitoIsto nesta segunda-feira (24).

Dado é equivocado

Este jornalista foi checar o dado histórico apontado por Georgiano e não é bem assim. As eleições em dois turnos foram instituídas no Brasil pela Constituição de 1988. Desde então, houve apenas quatro pleitos em que haviam duas vagas de senador em disputa por estado (1994, 2002, 2010 e 2018). Em outras cinco (1990, 1998, 2006, 2014 e 2022) só havia uma vaga em disputa.

Deputado estadual Georgiano Neto faz projeções para 2026 (Foto: Andressa Martins/DitoIsto)

Só quatro eleições já seria uma amostra pequena para considerar tal fato um dado histórico relevante. Mas não é só isso.

Nas quatro eleições em que haviam duas vagas em disputa, só há um exemplo onde o governador foi eleito com folga, no primeiro turno e conseguiu eleger os dois senadores. Foi no pleito de 2018, quando Wellington Dias (PT) foi reeleito com 55,65% dos votos e na sua base foram eleitos os senadores Ciro Nogueira (PP) e Marcelo Castro (MDB).

Nas outras três eleições, os resultados não batem com a pesquisa de Georgiano. Em 1994, Mão Santa (PMDB), um candidato de oposição, venceu para o governo, mas os dois senadores eleitos eram seus adversários (Freitas Neto e Hugo Napoleão, ambos do PFL). Além disso, Mão Santa venceu aquele pleito no 2º turno. Não foi com folga.

Em 2002, Wellington Dias (PT), candidato de oposição, venceu para o governo no 1º turno, mas sem ser com folga (teve 50,96% dos votos). Somado a isso, dos dois senadores eleitos, um era adversário do petista (Heráclito Fortes, do PFL). O outro eleito, Mão Santa (PMDB), esse sim, à época era aliado de Wellington Dias.

Em 2010, Wilson Martins foi eleito governador apenas no 2ª turno da disputa, o que já derruba um dos critérios apontados por Georgiano. Naquela ocasião, os eleitos para o Senado foram Wellington Dias (PT) e Ciro Nogueira (PP). Contudo, apenas Wellington era oficialmente da chapa majoritária de Wilson. Ciro, embora tenha recebido apoio de muitos setores do governo, estava no palanque de outro candidato a govenador.

Portanto, como já mencionado, a única eleição em que se pode dizer que governador foi eleito com folga, no 1º turno, e fez os dois senadores, foi em 2018, quando Wellington Dias chegou aos 55,65% dos votos válidos e se reelegeu para o 4º mandato no Governo do Piauí. Naquela ocasião, os dois candidatos a senador da base aliada do petista foram eleitos: Ciro Nogueira (PP) e Marcelo Castro (MDB). É o único exemplo.

Dito isto, o dado que Georgiano aponta é equivocado.

 

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